Tecnologia na saúde exige reinvenção do negócio

17 de dezembro de 2024Por ANCD

A área da saúde está vivendo uma transformação profunda com a incorporação de tecnologias avançadas, como Inteligência Artificial (IA), Business Intelligence (BI) e Data Science. Estas inovações têm o potencial de reconfigurar a forma como coletamos, armazenamos e utilizamos dados, proporcionando não apenas maior eficiência operacional, mas também insights que podem revolucionar o cuidado ao paciente. Contudo, é essencial entender que digitalizar processos não significa simplesmente transferir as práticas tradicionais para um ambiente eletrônico. Trata-se de uma mudança de paradigma, que requer uma nova forma de pensar o negócio e a gestão.

A tecnologia opera com uma lógica própria: automatiza, simplifica e potencializa aquilo que é eficiente. No entanto, ao produzirmos soluções tecnológicas ou ao adotá-las, é comum replicarmos padrões analógicos, criando o que se pode chamar de “burocracia virtual”. Este movimento natural reflete a transição de um mundo fundamentado no papel, onde os dados são fragmentados, para um universo digital, em que esses mesmos dados precisam ser organizados, analisados e interpretados de forma integrada. Ainda que compreensível, essa virtualização da burocracia é um passo inicial e incompleto. Não nos serve uma saúde que seja apenas a versão digital de seus antigos processos. Um prontuário eletrônico, por exemplo, deve ir além do simples armazenamento de informações do paciente. Ele deve integrar-se a sistemas que, utilizando IA e Data Science, identifiquem padrões de risco, recomendem tratamentos personalizados e otimizem o tempo e os recursos dos profissionais de saúde.

Digitalização não é o mero uso de ferramentas tecnológicas. Ela exige uma mudança de mindset que transcenda a adoção de sistemas eletrônicos. É necessário repensar como as instituições de saúde armazenam dados, gerem pessoas e produzem conhecimento. Essa transformação exige novas formas de gestão, em que o modelo tradicional, muitas vezes hierárquico e burocrático, deve dar lugar a estruturas mais ágeis, que incentivem a colaboração e a inovação. Também demanda uma cultura orientada a dados, onde o uso de BI e Data Science transforma dados brutos em informações estratégicas. Essa prática não deve se limitar à área administrativa, mas ser integrada ao cuidado clínico, permitindo decisões baseadas em evidências. A integração de sistemas também é fundamental. Tecnologias isoladas podem ser ineficazes, e o verdadeiro impacto da digitalização ocorre quando sistemas, como prontuários eletrônicos, ferramentas de BI e algoritmos de IA, comunicam-se de forma integrada e em tempo real. Por fim, capacitação contínua é essencial, uma vez que a tecnologia muda rapidamente, e com ela, as habilidades exigidas dos profissionais de saúde.

Para que a tecnologia alcance seu potencial transformador, é preciso uma visão que vá além do pragmatismo. É fundamental compreender que as ferramentas digitais não são um fim em si mesmas, mas um meio para criar uma saúde mais humanizada, acessível e eficiente. A digitalização bem-sucedida deve ser pautada por uma lógica transformadora, que priorize o impacto positivo nos pacientes, profissionais e gestores. A incorporação de IA, BI e Data Science pode reduzir custos, prever surtos de doenças, personalizar tratamentos e melhorar a experiência do paciente. Mas essas ferramentas só farão sentido em um ambiente que abrace a inovação como parte de sua essência, onde a tecnologia seja tratada não como suporte, mas como elemento central para novas formas de pensar e atuar.

O artigo “A saúde atual não precisa nem deveria ser digitalizada“, publicado no Jota, é nossa dica de leitura para uma reflexão contundente e necessária sobre os desafios e riscos da digitalização no setor de saúde. Com um olhar crítico e equilibrado, o texto alerta para a importância de uma abordagem responsável e inclusiva na adoção de tecnologias, ressaltando a necessidade de garantir equidade no acesso e segurança para os pacientes. A análise traz uma perspectiva ética e pragmática, que incentiva o diálogo entre inovação e as reais necessidades da sociedade, promovendo uma discussão essencial para um futuro mais justo e sustentável no cuidado à saúde.

O desafio está posto: superar a tentação de replicar o analógico no digital e aproveitar o potencial disruptivo da tecnologia. A saúde do futuro exige mais do que processos informatizados; ela requer uma nova mentalidade, que reconheça a tecnologia como uma aliada para criar valor, transformar dados em sabedoria e burocracia em eficiência. A transformação digital na saúde não é apenas uma oportunidade, mas uma necessidade para acompanhar os desafios e demandas de uma sociedade cada vez mais conectada. O futuro da saúde digital será moldado não pelas ferramentas que utilizamos, mas pela forma como as utilizamos para criar uma saúde verdadeiramente transformadora.

 

 

 

 

Daniel Fabre, Presidente da Diretoria Executiva da ANCD

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